PURGATÓRIO

- PURGATÓRIO
"Sentir o ímpeto de ir para Deus sem o poder satisfazer é o maior sofrimento que se possa imaginar, é , propriamente o purgatório. Este estado é um estado de morte, uma angústia inenarrável. É um sofrimento tão extremo que não há língua que o possa contar, nem inteligência que possa compreender sequer um milésimo, se Deus por uma graça especial não o mostrar" (Santa Catarina de Gênova).
A Igreja chama de purgatório o estado onde acontece
a purificação das almas após a morte,
das penas devidas a seus pecados já perdoados. A Igreja denomina Purgatório esta purificação final
dos eleitos, que é completamente distinta do castigo
dos condenados (CIC §1031).
Segundo o Catecismo da Igreja “Os que morrem
na graça e na amizade
de Deus, mas não estão
completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a
fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu” (CIC § 1030).
O PURGATÓRIO NAS SAGRADAS ESCRITURAS
A Palavra de Deus nos ensina
que somente aqueles
que estão puros, ou seja justificados,
podem herdar a vida eterna e conseqüentemente terem acesso à visão beatífica de Deus (Ver: Sl 14 ; Hb 12,
22-23 ; Mt 5,8 ). Diante destas exigências, infelizmente, também é verdade,
pouquíssimos cristãos partem desta vida totalmente
reconciliados com Deus e com os irmãos. A nossa salvação é acreditar que na misericórdia de Deus no purgatório.
O purgatório é portanto, uma exigência da razão e
mesmo da caridade de Deus por nós. Hoje, infelizmente, muitos
negam a realidade do purgatório, afirmando que o mesmo não se encontra na Bíblia. Vemos porém que apesar
do termo "purgatório" não
existir na Bíblia, a realidade, o conceito doutrinário deste lugar de purificação existe. Examinemos:
“Todo o que tiver falado
contra o Filho do homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste mundo, nem
no mundo vindouro."
(Mt 12, 32). Outras traduções da Sagrada
Escritura chamam este mundo vindouro de terra ou século vindouros. O que reafirma
existir este lugar de purificação.
Vejamos também Mc 3, 29:
"Mas,
se o tal administrador imaginar consigo: ‘Meu senhor tardará a vir’. E começar a espancar os servos e as servas,
a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor
daquele servo virá no dia em que não o esperar (...) e o mandará ao destino dos infiéis. O servo que, apesar de
conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes.
Mas aquele que, ignorando
a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se
deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém mais se há de exigir." ( Lc 12, 45-48).
Nesta parábola o administrador é o ministro da
Igreja ( quatro versículos acima
Pedro pergunta ao mestre: "Senhor é para nós que estás contando esta parábola?" Ao que Jesus responde:
"Qual é então Pedro, o administrador fiel que o Senhor constituirá sobre todo o seu pessoal?"). Pois bem,
o ministro de Deus que for infiel,
receberá a visita do seu senhor "no dia em que não o esperar" (dia de
sua morte). E o Senhor o
"mandará ao destino
dos infiéis" (inferno).
Porém a parábola acena que haverá outros
tipos de administradores, e outros
tipos de destino. Aquele que conhece a vontade de Deus mas não se preparou como convinha para a sua volta,
será açoitado "com numerosos golpes". Aquele que ignora a vontade de seu Senhor, e fizer coisas
repreensíveis será açoitado com "poucos golpes".
Portanto após a morte dos administradores
da casa de Deus, uns serão condenados
ao inferno, outros serão punidos, uns mais, outros menos, conforme o merecimento de cada um, mas não
compartilharão o "destino dos infiéis". Após a morte, portanto, haverá de haver algum lugar ou
"estado" onde os administradores pouco fiéis haverão de ser
purificados.
Vejamos Lc, 12, 58-59:
"Ora , quando fores com o teu adversário ao magistrado, faze o possível
para entrar em acordo com ele
pelo caminho, a fim de que ele não te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao executor, e o executor
te ponha na prisão. Digo-te: não sairás dali, até pagares o último centavo”
(Lc, 12, 58-59).
Nesta parábola o Senhor Jesus ensina que, enquanto
estivermos nesta vida devemos ter sempre uma atitude de reconciliação com os nossos irmãos de caminhada. Devemos
sempre entrar "em
acordo" com o próximo, pois caso contrário, ao fim da vida seremos
entregues ao juiz (Deus), que por sua vez nos
entregará ao executor ( seu anjo ) e este nos colocará na prisão (purgatório),
dali não sairemos até termos pago à
justiça divina toda nossa dívida, "até o último centavo". Mas um dia haveremos
de sair. A condenação neste caso não é eterna.
Vejamos Mt 5, 21-26 e 18, 23-35:
"Eu
porém vos digo: todo aquele que se encolerizar contra o seu irmão terá de responder no tribunal. Aquele
que chamar a seu irmão:
‘cretino’, estará sujeito
ao julgamento do Sinédrio. Aquele
que lhe chamar: ‘louco’, terá de responder
na geena de fogo (...) Assume logo uma atitude
reconciliadora com o teu adversário, enquanto estás a caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas
lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo" ( Mt 5,22.25-26).
Jesus nos ensina que a ira contra nossos irmãos e
as ofensas que a eles fizermos,
merecem toda a reprovação por parte do Pai celeste. Ao chamarmos nosso irmão de "louco" teremos
de responder na geena de fogo. O fogo sempre foi, em todos os tempos, e também na Bíblia um símbolo de
purificação. Evidente que ninguém é
condenado ao inferno para todo o sempre, somente porque chamou o seu próximo de "louco“ (senão todos estaríamos condenados). A chave deste ensinamento,
se encontra na conclusão deste discurso de Jesus: serás lançado na prisão (nesta "geena de fogo"),
e dali não se sai "enquanto não pagar o último centavo".
Quanto ao fundamento, ninguém, pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstra-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo"( I Cor 3, 10-15).
Paulo fala dos pregadores do Evangelho, que
haveriam de edificar a Igreja sobre os alicerces lançados
por ele durante suas viagens
missionárias. Uns edificariam com muito zelo ( com ouro,
prata e pedras preciosas), outros seriam porém,
pouco zelosos ( edificando com madeira ), outros seriam negligentes ( edificando a Igreja com feno ou palha ).
De qualquer forma o "dia do Julgamento" demonstraria o que "vale o trabalho de cada um". Se a
construção resistir, isto é se o
ministro edificou com amor : "o construtor receberá a recompensa". Se
o ministro foi pouco zeloso pela Igreja : "arcará com os danos". Porém ele será salvo apesar de tudo. Como? Sendo purificado, ou seja,
"passando de alguma maneira através do fogo",
isto é, após o dia do julgamento particular, alguns ministros de Deus deverão ser purificados devido
ao pouco zelo com as coisas da Igreja de Deus.
"Pois também Cristo morreu uma vez pelos
nossos pecados(...) padeceu a morte
em sua carne, mas foi vivificado quanto ao espírito. É neste mesmo espírito que ele foi pregar aos espíritos que eram detidos
na prisão, aqueles
que outrora, nos dias de Noé, tinham
sido rebeldes (...) Por isto foi o Evangelho pregado
também aos mortos; para que, embora sejam condenados
em sua humanidade de carne, vivam segundo Deus quanto
ao espírito." ( I Pe 3, 18-19 ; 4, 6 )
Esta "prisão" ou "limbo dos
antepassados", onde os espíritos dos antigos estavam presos, e onde Jesus Cristo foi pregar durante
o Sábado Santo,
é figura do purgatório.
Com efeito, o texto menciona que Cristo foi pregar "aqueles que outrora, nos dias de Noé, tinham sido
rebeldes". Temos portanto um lugar onde as almas dos antepassados aguardavam a salvação. Não é um lugar de
tormento eterno, portanto não é o
inferno. Não é um lugar de alegria eterna na presença de Deus, portanto ainda não é o céu. Mas é um lugar
onde os espíritos aguardavam a salvação. Salvação
e purificação comunicada pelo próprio Cristo.
Por isto declara o apóstolo foi o
"Evangelho pregado também aos mortos(...)
para que vivam segundo Deus quanto ao espírito"."De outra maneira,
que intentam aqueles que se batizam
em favor dos mortos ? Se os mortos realmente
não ressuscitam, por que se batizam por eles? " ( I Cor
15,29).
Paulo cita aqui, uma prática
cuja índole na verdade desconhecemos. Segundo alguns estudiosos, os primeiros cristãos preocupados com
a sorte eterna de seus pais ou avós que não haviam
conhecido o Evangelho, e consequentemente não puderam ser batizados, praticavam algum rito ou oração para que seus parentes ganhassem de alguma forma a salvação,
"batizando-se" em lugar
deles.
O apóstolo Paulo não condena este
"batismo" pelos falecidos, antes, lança mão justamente dele como argumento precioso da fé dos cristãos
na ressurreição geral dos mortos. De
fato, esta prática demonstra a preocupação dos primeiros cristãos com relação
à salvação de seus pais,
antepassados e amigos,
traduzida em algum rito ou oração pelos mortos, por
nós hoje desconhecida. A oração pelos mortos
aliás, era uma prática constante entre os primeiros cristãos, como atestam ainda hoje inscrições em numerosos túmulos
e arcas funerárias cristãs daqueles primeiros tempos.
"Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis porque ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas" ( II Mac 12, 43-46)
O general Judas Macabeu( 160 AC ), herói do
povo judeu, faz uma grande coleta e a
envia para Jerusalém, para que os sacerdotes ofereçam um sacrifício de expiação pelos pecados de alguns soldados
mortos. Fica claro no texto que os judeus oravam pelos seus mortos e por eles ofereciam sacrifícios. Fica claro também
que os sacerdotes hebreus já naquele tempo aceitavam e ofereciam sacrifícios em expiação dos pecados dos falecidos. E que esta prática estava apoiada
sobre a crença na ressurreição dos mortos.
Subentende este texto que as almas dos
soldados mortos, estavam em algum
local ou "estado" de purificação, pois se estivessem nos céus, as
oração dos vivos eram
desnecessárias, e se, por outro lado estivessem no inferno, toda oração seria inútil. E como o livro dos Macabeus
pertence ao cânon dos livros inspirados, aqui também
está uma base bíblica para a oração
em favor dos falecidos.
O cristão, que não ora pelos seus mortos,
comete pecado contra a caridade que
devemos ter para com os nossos irmãos falecidos, conforme o ensino bíblico: "Dá de boa vontade a todos os vivos,
e não recuses este benefício a um morto"
(Eclo 7,37 ).
Bibliografia
·
http://www.veritatis.com.br/patristica/99-patrologia/435-o-purgatorio-a-igreja- primitiva-e-os-santos-padres.
·
Catecismo da Igreja Católica.
Edição Típica Vaticana, São Paulo, Loyola,
2000.
·
O Purgatório -
O que a Igreja ensina / Felipe Rinaldo Queiroz de Aquino – 5ª Ed. – Lorena: Cléofas,
2008.
·
http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/category/purgatorio/